sexta-feira, setembro 30, 2005

Me queixo

Folha de São Paulo, 21 de setembro. A filósofa e uma das fundadoras do PT, Marilena Chauí publica uma carta onde tenta explicar, ainda que essa atitude não fosse necessária, o porquê de seu silencio ante a crise que afetou o Partido dos Trabalhadores e o governo federal – mesmo que essa crise seja supervalorizada pelos meios de comunicação (leia-se a Folha, Globo, Veja e afins), que têm se mostrado cada dia mais revanchistas.
A filósofa tenta através de um longo texto explicitar os motivos que a fizeram calar e aproveita para criticar a imprensa oportunista. Lendo sua carta, pensei em coisas interessantes: quem atribuiu à mídia o status de inquiridor, representante legítimo da sociedade (ainda que a sociedade não tenha avalizado tal função)? Por quê meus queridos colegas jornalistas atribuem a si próprios tão grande ubiqüidade? Se consideram os maiores representantes da democracia e da justiça. Justiça de quem? Para quem? Justiça dos magnatas, empresários compromissados apenas com o capital especulador e escravista.
Após o texto de Marilena, algumas páginas adiante, um “jornazista” rebate a carta com um texto entitulado “Marilena, o Latino...” (não me lembro bem o título). Mas o importante é que o jornal, estrategicamente, colocou o texto logo após a carta, numa tentativa clara de desconstruir o que a filósofa escreveu. God Bless the gate keepers...
Mas o pior não é isso, porque, como a própria Marilena diz em seu texto, uma empresa qualquer tem suas diretrizes políticas traçadas por seus donos, o agravante é que empresa está, pretensamente, ligada à esfera dos interesses públicos, como os jornais e meio de comunicação em geral. Como eu disse, o pior não é isso. O grande problema disso tudo foi a forma como o texto rebate os argumentos de Marilena. O tal Reinaldo Azevedo não faz outra coisa que não seja falacioso. O contraponto feito é de um mal gosto incomensurável. Com ataques à pessoa Marilena (coisas como “Marilena consegue chegar ao mais baixo nível que um intelectual consegue”, daí para baixo), Reinaldo Azevedo tenta desqualificar de qualquer maneira o argumento construído de forma coerente, respeitando um nível de argumentação inexistente no texto de Reinaldo.
Pessoal, como é que um cara que estudou por anos a fio pode tratar dessa maneira um texto publicado no jornal de maior expressão da maior capital do país? Inconsciente não foi. Fica mais evidente a postura elitista desse jornal que se diz a serviço do Brasil. Do Brasil das elites, do Brasil do empresariado, do Brasil vendido ao capital especulador, do Brasil hipócrita...Pior que isso só a Globo, que ,do último 7 de Setembro, noticiou apenas 43 segundos das manifestações cobrando o presidente Lula e do Grito dos Excluídos. Cultivo aqui a dúvida, por que nossos amigos jornalistas beiram o fascismo? Não generalizo e espero que a turma que chega agora ao “mercado” repense as responsabilidades da profissão.
Prometo que vou publicar uns textos menos queixosos agora. Não poderia deixar passar essa.
leia o texto de Marilena Chauí: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u72595.shtml
Leia o texto de Reinaldo Azevedo: http://www.primeiraleitura.com.br/auto/entenda.php?id=6265

sábado, setembro 24, 2005

Ode à (in)Diferença

- Gente, vamos viver!
- Cara, você precisa falar mais merda!
- A vida é muito curta pra você ficar choramingando pelos cantos!

Essas frases saíram das bocas de pessoas que muito estimo. No entanto, elas me fazem refletir sobre seu significado. Não o significado superficial, mas toda uma gama de ações, conceitos e morais que acarretam. Por ser oriundo de uma camada menos afortunada da sociedade, esse tipo de pensamento me causa ojeriza. Não os repilo, tento refletir a ponto de confirmar o que acredito ser o modo de agir adequado à realidade.
Como é que eu posso VIVER renegando os problemas que nós enfrentamos? Dar de cara com famílias inteiras que passam fome, não têm onde morar, independente de quem é a culpa. Aceitar que acreditam que o simples fato de um homem sentar em frente a um microfone ou em frente a uma câmera já faz dele o paladino do serviço social. Acho que, se tiver condições, é preciso que se ajude, mas tem de ser de coração. Como posso VIVER sabendo que esse povo que passa fome se resigna frente a dogmas excludentes e conformistas? Como posso VIVER sabendo que a maioria das pessoas apenas sobrevive? Eu posso VIVER enquanto o próximo, no máximo, sobrevive? Gostaria que esse povo fosse forte o suficiente a ponto de poder conhecer o SuperHomem de Nietzche, desconstruir essa teoria e ser SuperHomem hoje. Posso ignorar tudo isso? Sou capaz de ignorar isso e VIVER? Não sei.
Como é que eu posso falar mais merda se todos os dias é merda o que ouço nas rádios, o que vejo na televisão, o que leio nos jornais? Merda que atende apenas aos interesses dos poderosos para manterem sua relação de opressão aos menos poderosos. Como posso falar mais merda se é merda o que o povo engole dos “imparciais” da comunicação? Profissionais cínicos e hipócritas que se auto proclamam os defensores da democracia, mas mascaram pensamentos fascistas. Eu tenho condições da falar merda se a merda que toca nas FM’s estão cada vez mais dominando nossa cultura musical, tão rica outrora, hoje vendida à filosofia do mercado, escrava do capitalismo, logo, destinada apenas a quem tem dinheiro? Pergunto: onde está o discurso dos nossos poetas? A fim de quê chamam a si próprios de artistas? Que arte é essa?
Como não se deprimir diante da exclusão? Como não chorar frente à cruel realidade, que, para a manutenção de alguns, escraviza a maioria? Esse papinho não me convence mais e, me desculpem, faz parte de uma moral burguesa individualista, excludente e decadente! Como priorizar o indivíduo se o homem não vive sozinho? A vida é curta para poucos, que a desfrutam baseados em um hedonismo nauseabundo.
Eu penso isso. Mas houve um tempo em que acreditei que ser diferente era legal. Hoje é triste saber que seus valores estão em desconformidade com seus contemporâneos. Me chamem de anacrônico. Aos meus amigos, não quero que se convençam com palavras. Que emane a dúvida em seus pensamentos mais sinceros sobre seu modo de agir para com o próximo. Cultivo aqui apenas algumas dúvidas que pairam em minha cabeça.